A história da primeira bolha financeira: Tulipomania Holandesa

Há um episódio estranhíssimo na história Holandesa. No ano de 1637, em plena expansão económica da Holanda, numa sociedade conservadora protestante, calculista nos seus riscos e obrigações financeiras, existiu um descontrolo absoluto na especulação de tulipas. De uma flor praticamente desconhecida, em 30 anos, um único bolbo de uma espécie em particular podia chegar a ser negociado pelo valor de mansões nos canais “mais bem” de Amsterdam. Mas, que até que um dia, o mercado não acompanhou o crescimento vertiginoso dos preços, e deu-se o colapso.

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O caso da Tulipomania, tornou-se um exemplo através do qual muitas firmas de investimento lembram aos novos colaboradores, para não se deixarem levar por processos de especulação. No entanto, foi um caso cuja origem e razões latentes nunca chegaram a ser realmente analisadas na profundidade que o contexto social e histórico merece.

E é isso que o livro “Tulipomania” de Mike Dash tenta fazer. Tenta explicar passo por passo, desde a introdução da flor na Holanda, até às primeiras trocas feitas da flor por especialistas, como é que a negociação de tulipas se tornou uma epidemia especulativa. Na ausência de registos que expliquem em profundidade o que se passou, fica-se com a noção clara que a calamidade foi um combinar de 3 grandes factores.

Em primeiro lugar a flor ficou na moda. Era uma preciosidade vinda do Oriente muito apreciada pela alta burguesia, que começou a exercer uma procura forte sobre uma oferta muito limitada. Os bolbos que chegavam do estrangeiro eram limitados, e o processo de amadurecimento e reprodução da flor também é lento. Assim o factor raridade, cria uma procura quase sempre superior à oferta o que leva os preços para cima.

Depois veio o facto de não ser uma profissão regulada, não sendo necessário pertencer a nenhuma associação profissional ou pagar quotas para cultivar ou negociar tulipas. Assim, várias pessoas tinham um acesso rápido, sem necessidade de entrada de capital ou qualquer investimento, às transacções de tulipas. Não porque fossem apreciadores da flor, ou porque as quisessem plantar, apenas pela especulação de preços e pelo lucro rápido que daí podia advir.

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O terceiro factor foi a inovação financeira, também conhecido por chico espertismo. Inicialmente a negociação de tulipas estava confinada ao período logo após a Primavera, depois de florir, em que é possível retirar o bolbo da terra e negociá-lo, antes mesmo de se voltar a colocar na terra no Inverno.

Isto criava um efeito de sazonalidade no mercado, que na realidade só estava aberto durante uns 3 meses, entre o florir, o levantar do bolbo e a novo cultivo. Esta sazonalidade conferia alguma regulação ao mercado, porque era necessário esperar, aferir a qualidade da flor, a que subtipo pertencia e depois negociá-la pelo seu valor. No entanto, rapidamente se chegou a uma forma de eliminar este factor de sazonalidade. Inventaram-se um género de títulos futuros, ou notas promissórias do bolbo, que identifica o tipo de flor, o seu peso e quando seria levantada da terra. Isto permitia negociar o ano inteiro, sobre um bem que estava literalmente enterrado, e que ninguém realmente sabia o valor que tinha. Com os preços constantemente a subir, as notas promissórias de compra do bolbo passavam de mão mão com mais frequência que uma prostituta de Amsterdam.

Estas notas promissórias envolviam também o pagamento de apenas de 10% do valor total negociado, sendo o resto apenas pago no momento em que se levantava o bolbo da terra. Assim, mesmo que não se tivesse o valor final de compra, comprava-se o título por 10% na expectativa de o vender novamente por um preço mais alto, antes que o fosse levantado da terra.

Isto tudo combinado foi a primeira bolha financeira do mundo, ou como se diz em banda desenhada KABUMMMM! Falências, processos de tribunais, dividas, dividas e dividas!

O livro está super interessante, com histórias e personagens reais muito ricas, e lê-se num tirinho, e lembra-nos que a ganância e o dinheiro fácil é um dos males do mundo e uma ilusão.

E lembrou-me muito este filme:

Recomendo!

3 comentários

  1. […] loucura que se seguiu e a história da primeira bolha financeira podem lê-la toda aqui, num texto que escrevi há tempos sobre a Tulipomania, depois de ter lido um livro super […]

  2. […] loucura das tulipas, a excelência no estudo da botânica e o facto dos Holandeses serem os maiores negociantes de […]

  3. […] à ruína financeira pela especulação no valor de bolbos de tulipas que ficou conhecido como Tulipomania. Desde aí tornaram-se os maiores produtores e exportadores de flores do mundo. No dia-a-dia é […]

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