Outras caixas, outras histórias – a vida e a obra de Jopie Huisman

Devem estar a pensar: “Afinal quantas caixas é que esta rapariga tem lá por casa?” Bom, aparentemente ainda mais uma, para contar mais uma história! Conforme vou procurando espaço adicional nos armários, vou descobrindo umas maravilhas da arrumação cá por casa, e ontem foi a vez desta caixa:

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Não foi difícil chegar à conclusão que as iniciais J. Huisman diziam respeito a um pintor Holandês do século XX chamado Jopie Huisman. Na parte de cima da caixa vê-se Oude Helling Te Workum, e também foi fácil perceber que Oude Helling é uma encosta perto de água, como se fosse um mini porto, e Workum a cidade Holandesa localizada na zona de Friesland mesmo a Norte, onde o artista nasceu em 1922 e passou grande parte da sua vida.

O mais surpreendente é que Jopie Huisman não ficou famoso por este tipo de trabalho – paisagens bucólicas do campo Holandês, mas sim por um trabalho realista de peças de roupa velha, trapos, e sapatos muito gastos. O artista homenageou verdadeiramente a sua terra com um trabalho focado nos objectos pessoais, na pobreza e na compaixão para com a condição humana. Esta era a filosofia do artista – ouvir e receber com calor todos aqueles que tinham pouco ou quase nada, e com a sua pintura levantá-los da pobreza e fazer uma homenagem aos objectos do dia-a-dia e à vida simples do camponês da Frísia.

A sua mensagem é de compaixão universal e intemporal.

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Jopie_2

As vivências em Workum no período da 2.ª Guerra Mundial muito devem ter contribuído para esta mensagem na obra do pintor auto-didacta. Ele foi inclusive capturado por forças alemães durante a Guerra e conduzido para um campo de trabalhos forçados onde esteve até conseguir escapar depois de um bombardeamento ao campo.

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Voltou à sua cidade onde teve que viver escondido até ao final da Guerra. Os períodos posteriores na sua vida não o levaram imediatamente à pintura, mas anos mais tarde abraçou esta arte como se fosse parte de si. Nas suas próprias palavras: “Comecei a pintar, como comecei a respirar. Sem que eu soubesse. É apenas um desejo de dentro. Como a comida ou a bebida

Construiu em Workum um museu para receber toda a sua obra, e desde 2000, a data em que o pintor faleceu, que este espaço se dedica a manter o legado do pintor vivo: http://www.jopiehuismanmuseum.nl/

Depois de toda esta descoberta, obviamente que terei um dia que visitar Workum e o Museu. Há um gozo especial neste tipo de aprendizagens a partir de objectos – nunca vou olhar com os mesmos olhos para a caixa que está ali na cozinha. Há mais sentimento, há mais compaixão.

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