Estou inquieta com a possibilidade de este texto não sair à altura do livro que quero falar nele. Gostaria sinceramente de escrever algo inteligente, que fizesse sentido lado a lado com literatura desta categoria, isto porque “Amsterdam, a Brief Life of the City”, de Geert Mak é o que as aulas de história deveriam ser e não são, o que os guias de viagens deviam ser e não são, e até me atravesso a dizer, o que o jornalismo devia ser, e muitas vezes não é.
Isto porque são 300 páginas de relato histórico, que apesar de sério, é absolutamente cativante, factual, não sentimental e não enviesado, que nos apresenta a cidade século a século, bairro a bairro, pessoa a pessoa, como se tivéssemos a passear pelos canais num passeio pela própria época em si, e fossemos apresentados a todas aquelas personagens. É escrito com uma ironia e com um sentido de continuidade notável.
É um livro que aprofundou imensamente a percepção que tenho de Amsterdam – as ruas têm agora idade e identidade diferenciada, as casas têm rostos e gerações inteiras e os canais têm cheiro e têm todas as estações do ano neles contidos. A cidade passou a ser memória colectiva: histórias divertidas e histórias de horror. E infelizmente são mais as que são banhadas a sangue, do que aquelas que se perpetuam em alegria, não fosse este livro passado entre o século XII e o século XX, e abarcasse os momentos mais tristes da nossa História, incluído a 2.ª Guerra Mundial. No fundo são 300 páginas que abarcam 800 anos, desde a fundação da cidade até os anos 80 do século XX.
Quem estiver a pensar um dia visitar a Amsterdam, aposte em ler este livro uns tempos antes que aposta bem. As pessoas que vão conhecer no livro, vão acompanhar-vos quando estiverem a percorrer as ruas da cidade, e vão também relacionar melhor a história de Amsterdam com a nossa própria história de Portugal. As coisas tornam-se mais reais quando estão relacionadas connosco, e há muitas menções às interconexões entre Portugal e a Holanda, desde a fuga dos judeus Portugueses para esta cidade, até roubos de mapas Portugueses do tempo dos descobrimentos com rotas para a Índia e ao período de domínio do Reinado dos Filipes que Portugueses e Holandeses sofreram subjugados juntos.
Na verdade Amsterdam é quase um país dentro de outro, não fosse a cidade ter tido uma administração quase autónoma até praticamente ao século XIX. Eu própria estou ansiosa por passar um dia novamente na cidade, e revê-la com estes novos olhos.
Infelizmente o livro não está editado em Português, mas está em Inglês. Podem encontrá-lo por exemplo na Amazon ou então onde eu o comprei: na American Book Store.
O Geert Mak é um aclamado autor e jornalista Holandês, e tive a sorte de dar com ele, porque lançou há pouco tempo um novo livro, que é um dos mais requisitados aqui das bibliotecas de Utrecht. Penso que nenhum dos seus livros esteja traduzido para Português.
Acabei o livro com um certo de sentimento de perda, como se fosse impossível travar o processo de esquecimento de alguns dos pormenores mais cativantes do livro, como se quiséssemos reter tudinho e não deixar escapar nada. Gostaria que houvesse um livro escrito assim para Lisboa, outro para Utrecht, outro para cada grande cidade deste mundo. Talvez as peças do puzzle da história de começassem a encaixar e tudo começasse a fazer mais sentido.
Inspirada pelo teu post… Pus me a procurar… será que há alguma coisa do mesmo genero mas sobre Lisboa. Ora aqui esta… vou ler e depois conto-te como foi a viagem.
http://esferadoslivros.pt/livros.php?id_li=275
Boa! Bem jogado. Adorei teres descoberto este livro! Também vai para a minha wish list :D Por favor depois conta-me como foi :D
Vou ter visitas em Lisboa e queria saber mais também… e vi o teu post e LUZ. Como História nao é bem o meu forte lembrei-me que talvez exista uma coisa assim :) Mas para a nossa bela Lisboa. Depois trocamos livros :)
Excelente ideia! :)
Acabei de ler o In Europe dele, fantástico! É a história da Europa no século XX, mas é tb viagens pela Europa e excertos de testemunhos individuais. Impressionante! E apercebi-me de como a história da Europa é um thriller do caraças!
Tenho que ler também!