O dia dos namorados é um dia agridoce. É uma data absolutamente ensopada de consumismo, que se consegue tolerar quando se tem namorado, mas completamente hedionda quando não temos par, uma vez que casais, não tão românticos na espuma dos outros dias do ano, aparecem apaixonados às centenas, como cogumelos num bosque depois de uma manhã fresquinha, armados com bouquets de flores e balões em forma de coração.
Mas não me tomem por cínica, acho que o Amor é uma das coisas que mais vale a pena celebrar.
E por isso, com o aproximar do dia, e inspirada num dos souvenirs mais populares da Holanda, estava preparada para contar aquilo que imaginava ser ou uma grande história de amor, ou uma grande lenda nacional. “Het kussend paartje”, é o nome oficial, ou aqui entre nós “O casal aos beijos”, e é um motivo que anda por todo o lado aqui na Holanda, acompanhado pelas socas de madeira, as tulipas e o queijo. Qualquer loja de souvenirs que se preze tem uns quantos casais a dar um xoxo, em vários objectos e formatos. O formato mais popular talvez seja mesmo o simples bibelot sem qualquer utilidade vísivel, e no estilo da porcelana holandesa Delftware.
Eu própria já tenho um casal apaixonado, que vinha com uma caixa de bombons:
Tal qual Galo de Barcelos, que quando se coloca no Google aparece imediatamente toda a história por detrás dele, estava a imaginar, uma grande lenda, uma grande história de amor, de um rapaz e uma rapariga, camponeses, em tenra idade a descobrirem o amor e o beijo pela primeira vez, talvez junto a um canal e a um barquinho. Era assim que eu imaginava a descoberta da história, verdadeira ou lenda, por detrás do souvenir.
O que eu descobri foi a ausência total de história. A ausência de qualquer tipo de justificação que fizesse sentido para que este objecto fosse um dos símbolos nacionais da Holanda. Inclusive há uns meses quem chegava ao aeroporto de Schipol encontrava em duas portas automáticas gigantes o casal, que se separava quando as portas abriam, e que se beijava quando as portas fechavam. Pesquisei em Inglês, pesquisei em Holandês e num último esforço em Portugês. Nada. Apenas lojas online e muitos preços para este souvenir, altamente popular como lembrança de casamentos.
É possível que não tenha história? É possível que seja só um objecto inventado por lojistas para apelar aos corações e às bolsas dos turistas desesperados por levar uma lembrança barata aos amigos? Será possível a ausência total de conteúdo?
Depois de ter digerido o assunto e a frustação, pensei que não era importante haver uma lenda, uma história ou uma justificação. Podemos interpretar o objecto como nós quisermos, e para mim, é o símbolo universal da descoberta inocente e pura do amor. E por isso, não se presta a lendas, nem a individualizações, é real e acontece a todos. A história do objecto é a história individual de cada um de nós sobre a descoberta do amor, seja ela passada no campo ou na cidade, no século XV ou no século XXI.
Talvez venha a descobrir mais sobre o significado do objecto, qual a origem e quem o fabricou pela primeira vez. Talvez tenha origem nesta fotografia, que acho simplesmente adorável, ou noutra inspiração mais remota ainda. Mas como diz alguém, isso agora já não me interessa nada.
Bom, e como o Dia De São Valentim é só daqui a 3 dias ainda têm um tempinho para se inspirarem neste postal vintage com o dito casal aos beijinhos, e enviarem uma carta aos vossos mais que tudos!
Com amor, Espresso and Stroopwafel
[…] também em Delft que descobri a prova que me faltava para apoiar a minha tese, descrita em Fevereiro deste ano, que o casal de miúdos aos xoxos em porcelana (e não só) não tem mesmo história de amor oculta […]