“Enquanto os velhos cantam, os novos fumam” é um ditado holandês e um quadro de Jan Steen, e ambos querem apenas transmitir uma ideia muito simples: os adultos devem educar pelo exemplo. Algo do género do provérbio português: “Pais impertinentes fazem filhos desobedientes“
O ditado e quadro, dão-nos a pista que fumar na Holanda do século XVII já era um comportamento condenável, apesar da florescente indústria de cachimbos e tabaco Holandeses.
Gouda foi um dos centros da indústria de produção de finos cachimbos. Muito longos e delgados, uns feitos de porcelana, outros de madeira, estes cachimbos são conhecidos como “Goudse Pijp“ e ainda hoje, para além do queijo e das stroopwafels, são um dos souvenirs mais procurados da cidade. A loja D.G. van Vreumingen é a loja de tabaco mais antiga da Holanda e merece sem dúvida uma visita. Fundada em 1836, ainda vende hoje uma selecção impressionante de tabaco e cachimbos de Gouda.
No quadro de Jan Steen, o cachimbo de Gouda é representado de forma caricatural. Uma mãe embriagada e um pai que ensina o seu filho a fumar um longo cachimbo de Gouda. Um ambiente festivo, onde os progenitores se esquecem que não se deve dar maus exemplos a crianças e que se deve educar pelo exemplo. Mas Steen não pretendia condenar ninguém, até porque de forma muito graciosa aponta o dedo a si próprio e autoretratou-se no papel do pai imoral e ao seu filho no papel da criança que é ensinada a fumar.
No entanto, apesar do excelente exemplo que os nossos respectivos pais sempre nos deram, numa das visitas a Gouda comprámos um cachimbo por uma única razão: não tinhamos dormido o suficiente na noite anterior e a possibilidade de comprar um cachimbo parecido com o do Gandalf do Senhor dos Aneis, parecia-nos a coisa mais acertada a fazer naquele momento.
A infalível atracção da cultura pop aliada a poucas horas de sonho, resultou no facto de termos agora um cachimbo em casa, que não serve para absolutamente nada excepto para ocupar espaço. Sim, porque a única tentativa de o acender, também num dia de pouco sono, revelou-se infrutívera. Segurar o cachimbo apenas com a boca é impossível, por isso um dos braços tem que se ocupar de o segurar, enquanto o outro tenta de forma atabalhoada chegar à ponta para deitar um pouco de fogo no tabaco. Experiências idiotas de dois não fumadores portugueses, que felizmente se vão manter assim: não fumadores!
Hoje em dia o cachimbo só serve verdadeiramente para isto: composições fotográficas tão cómicas como os quadros de Jan Steen.
Excelente texto sobre os cachimbos de Gouda.