Há uns valentes meses atrás, na minha busca de emprego pela Holanda, dei de caras com uma empresa improvavelmente Holandesa. Fiquei surpreendida e fiquei com o nome da empresa na cabeça: Vlisco. Uns meses mais tarde, numa escala no aeroporto de Joahnesburgo, na loja de souvenires tipicamente sul-africanos lá estava um expositor com uma série de tecidos da mesma empresa. Descobri na altura que uma pequena empresa em Helmond a sul Holanda fornece grande parte dos designs e tecidos que consideramos tipicamente Africanos. Ora vejam as imagens da nova colecção de tecidos da Vlisco:
O artista Anglo-Nigeriano Yinka Shonibar colocou a questão de forma interessante: “A imagem de um cachimbo não é necessariamente um cachimbo, e a imagem do “tecido africano” não é necessariamente autenticamente e inteiramente Africano”
O que é comumente conhecido como “tecido Africano”, tem uma infinidade de nomes que apelam à sua origem holandesa/ europeia: Dutch wax print, Veritable Java Print, Guaranteed Dutch Java, Veritable Dutch Hollandais! Na verdade, nunca imaginei que a história do tecido Africano – cujo nome afinal é Dutch wax print – se espalhasse ao longo de séculos e de 3 Continentes diferentes: o Asiático, o Europeu e o Africano.
Tudo começou com a cópia dos batiques indonésios e a sua produção pelos holandeses para o mercado têxtil da Indonésia. (E a propósito de cópia holandesa lembrei-me mesmo agora deste outro artigo do blog) Mas, por engano ou design, estes tecidos receberam significativamente mais interesse no Oeste Africano do que na Indonésia. Reconhecendo esta oportunidade, os holandeses decidiram concentrar-se no mercado Africano. Como tal, os designs foram modificados para refletir a cultura e estilo de vida Africano e assim surgiu uma das imagens de marca de um Continente inteiro.
(Todas as imagens foram retiradas do site da Vlisco)
Voltanto à história da Vlisco, foi através de uma série de singularidades históricas e intrépido empreendedorismo, que a empresa fundada em 1846, finalmente emergiu como o jogador dominante no século XIX entre os vários holandeses, britânicos e empresas francesas que disputam uma fatia deste lucrativo mercado.
Até o final do século XIX, o Dutch wax print da Vlisco foi vendido para diversos países africanos ao longo da rota comercial oceânica de volta à Indonésia. Conforme os anos passaram, padrões e paletas de cores foram adaptadas ao gosto Africano, até que, na década de 1930 , os tecidos da Vlisco foram projetados para a elite Africana, passando assim a dominar o mercado de importação da região. Com lojas espalhadas pelas principais cidades deste continente, hoje a Vlisco apesar de Holandesa, é sinónimo de África.
Isto levou a que alguns intelectuais questionassem ou criticassem a empresa por ter construído um negócio assente sobre os produtos que dizem não serem inteiramente e autenticamente Africanos.
Ao contrário da “Porcelana” de Delft, que foi uma cópia da porcelana chinesa para fornecedor o mercado europeu, este tipo de tecido é uma cópia holandesa de um tecido indonésio que acabou por fornecedor o mercado africano e tornar-se um símbolo. Improvável e irónico? O mundo de negócios holandês não me deixa de surpreender.
Estes holandeses! … ; )
Que tecidos lindos!Gostaria de ter alguns..
Concordo! :) Sao lindos!
Quando as minhas cunhadas estavam de visita em Zâmbia, nos anos ´70, compraram lá tecidos dum “print aficana”. Quando chegaram em casa na Holanda, repararam do “made in Holland”. Talvez foram do Vlisco….