Sempre cresci com a ideia que para receber presentes de Natal, teria que ser uma menina bem comportada. Nas semanas anteriores ao Natal, tentava não ser preguiçosa e não falhar com umas das únicas tarefas domésticas que me pediam quando era mais pequena – pôr a mesa.
O pai Natal sempre me trouxe presentes, e fui acreditando que das duas uma: ou ele me perdoava as birras que tinha feito ao longo do ano, ou ele sofria do mesmo mal da grande maioria dos adultos, e tinha uma memória muito curta.
Em qualquer das situações, o pai Natal foi sempre um velhinho simpático, bonacheirão e de forma muito importante para qualquer criança, generoso.
Ora o que eu não sabia, é que para as crianças deste lado da Europa, há umas boas décadas atrás, o velhinho para além de recompensar os bonzinhos, tinha que distribuir vergastada aos maus. Vinha no descritivo de funções do Sinterklaas: Pancada, puxões de orelhas e chapéus de burro – valia tudo para domar estes pequenos espíritos mal comportados.
Desde a sua chegada à Holanda no barco em meados de Novembro até o 5 de Dezembro, o velhote não tinha mãos a medir. Presentes para um lado, açoites para outro.
Alguém achou que tamanha carga de trabalhos, não era adequada para o Santo velhote, e decidiu introduzir a figura de um assistente. E assim nasceu a figura do Zwarte Piet na Holanda. Ao início, o Piet ficou com a parte mais pesada do trabalho. E era ele o bicho papão para as crianças mal comportadas. Aqui nesta imagem o Piet enfia uma criança numa saca (um clássico da pedagogia antiga) e na outra aterroriza os meninos maus.
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Hoje a controvérsia à volta do Piet tem a ver com estereótipos raciais, e nada com a vertente pedagógica, se faz bem ou mal usar o medo e a intimidação para educar crianças. Até porque a figura do Piet hoje em dia tem tudo menos de ameaçador.
Para quem está interessado nesta tradição holandesa, pode ver a evolução do Sinterklaas e do
Piet através de ilustrações antigas, no Rijksmuseum em Amsterdam
as ilustrações são lindíssimas, quanto ao conteúdo e mensagem adjudicada, aí, é que já não há assim tanta beleza. a pedagogia do século XIX: palmada e bofetada, não vai a bem, vai a mal, o que desconhecia era que, o simpático velhinho, afinal tinha também uma missão tão ruim. :-)
Tambem eu! O que eu me ri ao ver a imagem que pus no header: o velhote de cana na mao e os pais serenos atras como nao estivesse a acontecer nada! simplesmente inacreditavel para os dias de hoje :)
[…] (Foto na expo do Rijksmuseum no ano passado) […]