O ano passado também passámos o último da Rainha em Utrecht. Entre as deambulações próprias do dia, passámos algum tempo no “vrijmarkt”, ou mercado livre. O antigo dia da Rainha, agora dia do Rei concede aos Holandeses a possibilidade de venderem quinquilharias e outras coisas que se lembrem, sem qualquer custo ou imposto.
O espírito do vrijmarkt é desde cedo passado aos miúdos, que são incentivados a montar os seus próprios negócios por um dia: montar um jogo original, tocar música ou vender os seus antigos brinquedos para ganhar dinheiro. Os adultos geralmente focam-se em vender roupa usada e coisas da casa que já não usam, por preços muito convidativos.
Ora no vrijmarkt do ano passado surgiu a ideia meio maluca de nós próprios vendermos qualquer coisa no Dia do Rei, e ter a a experiência de estar atrás das bancas. Como nunca tivemos uma experiência semelhante, esta ideia parecia muito aventureira. Primeiro pensámos em fazer pasteis de nata e pasteis de bacalhau. A ideia foi crescendo e já nos víamos a vender ginginha em copos de chocolate, quem sabe uns copos de vinho do Porto e montar ali uma festa.
Mas há um mês atrás, descobrimos que oficialmente não é permitido vender bens perecíveis e álcool sem licença no dia do Rei. Obviamente que se vêem muitas pessoas a vender queques e tartes, poffertjes e panquecas, mas essas pessoas são Holandesas e não estrangeiras. Decidimos não arriscar, mas decidimos não desistir da nossa ideia meio louca de vender coisas Portuguesas no dia do Rei.
Uns amigos que vieram de Portugal, trouxeram-nos a mercadoria de petiscos não perecíveis e tinhamos quase tudo preparado para uma manhã muito animada e divertida (Muito Obrigada!!)
Vendemos azeite, piri-piri e conservas. Montámos uma mesa pequenina ao lado de uns amigos Holandeses que iam vender roupa em 2.a mão.
As vendas não correram mal, mas foi toda a interacção com as várias pessoas que pararam no nosso “stand“ que fez experiência valer a pena. Falámos dos produtos, das regiões e de como os utilizamos na nossa cozinha. Ouvimos muito também. E ao ouvir percebemos que não somos só nós, Portugueses emigrados ou expatriados, que temos saudades e gostamos do nosso país.
Quantos Holandeses, que ao verem o nosso “stand”, sorriam, paravam e nos vinham falar das suas férias ou da sua casa em Portugal. Outros tiraram fotografias para mandar para a família que vive em Portugal. Outros disseram-nos “A minha mulher é Portuguesa!”. Outros falaram connosco num Português quase perfeito (certamente melhor que o nosso Holandês, que tentámos manter ao longo das nossas conversas). Todos tinham saudade no rosto e por breves momentos partilhámos qualquer coisa juntos. Claro que é uma saudade diferente da minha, e acredito que diferente da saudade de muitos de vocês que passam aqui para ler aqui o blog – a saudade de estrangeiros a viver fora do seu país. Esta que encontramos nos sorrisos dos Holandeses, talvez seja uma saudade de férias, de momentos de felicidade e de liberdade num país tão maravilhoso como Portugal.
Foi divertido e tão enriquecedor (não monetariamente, porque está claro que ninguém faz fortuna a vender azeite e latas de atum numa manhã!). E foi cansativo também, porque tivemos que nos levantar muito cedo para arranjar um lugar no mercado. Mas valeu mesmo a pena! E ainda ficámos com umas latinhas para nós! O azeite e piri-piri esgotou.
E assim foi a nossa manhã do primeiro dia do Rei desde há mais de 100 anos na Holanda. Um dia histórico para a Holanda e para nós! :)
E desse lado, alguém já participou no vrijmarkt do dia da Rainha / Rei ou em algo semelhante? Como foi a vossa experiência?
Que experiência tão interessante :)
[…] Este dia do Rei – o dia que celebra o aniversário do Rei e a mais famosa festa Holandesa – foi comparativamente com o ano passado muitoooo calminho. E ainda bem! As vendas do ano passado no mercado livre foram emoções suficientes para algum tempo! […]