Hoje é dia de Oscares versão Holandesa. O Homem de Ouro é substituído pelo Gouden Kalf – “Bezerro de Ouro”, que é o grande prémio do Festival de Cinema Holandês. Prémio este muito apropriado, não fosse a vaca um símbolo incontornável da Holanda e não estivesse também no seguimento das estatuetas atribuídas por essa Europa fora: o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Leão de Ouro no Festival de Veneza e a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
A adoração do bezerro de ouro causou algumas desventuras a Moisés e à sua malta no deserto, mas aqui na Holanda, é desde 1981 uma das grandes honras e reconhecimento a realizadores, argumentistas, produtores e actores e actrizes nacionais.
Sorte a minha que o Festival está a acontecer exactamente em Utrecht e consegui espreitar um pouco do ambiente! A zona do Neude está totalmente preparada com passadeiras vermelhas e um espaço dedicado aos filmes em cartaz.
Poucos filmes têm legendas em Inglês, mas mesmo assim conseguimos ver um documentário interessante “Ik wil mijn geld terug” em Português “Eu quero o meu dinheiro de volta”, que apresenta as desventuras do próprio realizador do documentário, que perdeu parte do dinheiro do filho, com a falência de um banco Islandês em que tinha o seu dinheiro depositado. Com uma boa dose de sentido de humor e pragmatismo Holandês, fica claro que o drama da crise financeira não é algo que atingiu apenas os “sulistas” do costume. Muitas famílias Holandesas ficaram também entaladas com a crise bancária.
O grande filme deste ano em estreia no festival e em competição é o “Hoe duur was de suiker” ou “Quanto custa o açúcar?” do realizador Jean van de Velde.
Uma adaptação para o cinema do romance histórico homónimo sobre a vida numa plantação de açúcar no Suriname, ex-colónia Holandesa, no século XVIII. Um filme que foca a escravatura no Suriname e o modo do vida dos colonos. Facto muito interessante para mim, é que grande parte dos colonos donos destas plantações de açúcar eram na realidade Judeus Portugueses que chegaram ao Suriname depois da capitulação Holandesa da zona do Recife no Brasil, e que encontraram neste país um novo lar, longe da perseguição católica.
No Suriname, os judeus Portugueses contribuíram substancialmente para o desenvolvimento da colónia, à base da cultura da cana-de-açúcar, e, graças à absoluta liberdade de que gozavam, foram crescendo em número e organizando-se numa comunidade, que no final do século XVIII contava com mais de 1.300 pessoas.
Infelizmente este filme não tem legendas, mas é sem dúvida um dos preferidos a levar uns bezerros de ouro para casa! Logo se saberá quem sairá vencedor.