Win/Win (2010), Holanda
Realização / Argumento: Jaap van Heusden
Actor principal: Oscar Van Rompay (Ivan)
Actores secundários: Halina Reijn (Deniz), Leon Voorberg (Stef), Hans Kesting (Max), Phi Nguyen (Paul).
Prémios: Melhor Actor (Brooklyn International Film Festival 2010), Melhor argumento (Prix Europa 2010)
Imaginem que são um trader júnior que finalmente consegue ser promovido. Com as novas funções começam a ter insónias crescentes, seduzem a empregada da recepção e acabam por estar envolvidos directamente no suicídio de um colega. Benvindos a Zuidas, o centro financeiro da Holanda. E à vida de Ivan, um geek belga que aparentemente não sabe lidar com o sucesso.
Mas a estória é normalmente o que tem menos para contar. Aqui foi a porta de entrada para um conto sobre a alienação. Alienação crescente de nós mesmos quando nos esquecemos de quem somos à medida que caminhamos focados apenas no “sucesso”. Alienação também de um país chamado Holanda, formado por realidades paralelas que não comunicam entre si e que Ivan teima em transpôr, seja num café turco onde joga gamão, ou no seu apartamento ultra-estilizado esvaziado de humanidade.
O combate de Ivan com a ansiedade e insónia, amigas da alienação, leva-nos também para a noite escura de Amesterdão, para o Bairro Vermelho, para grupos religiosos, grupos de apoio a viciados em jogo e casas para sem-abrigo. Caminha descalço ao lado de lunáticos nocturnos, como que entre os seus. Chega até, imaginem, a telefonar à sua avó – e todos sabemos que o derradeiro remédio são as nossas avós. No entanto, isso não bastou.
Já no rescaldo do suicídio do seu colega asiático de quem se tentou aproximar, e ainda a fazer fortunas para a empresa como sénior, despediu-se. Nos dias de hoje, também não seria o mais sensato. Lose / lose?
Esta alienação crescente de Ivan à medida que cresce para cargos mais sérios na empresa foi sem dúvida o que o realizador, Jaap van Heusden, sentiu quanto teve de escolher entre seguir Gestão ou Cinema na Faculdade há poucos anos atrás. Tanto para Jaap como para Oscar Van Rompay – o nosso Ivan – esta foi a primeira longa-metragem. Na casa dos 35, representam a nova geração do cinema holandês.
Como novatos, rodearam-se de actores mais experientes nos papéis secundários, como a já celebrada Halina Reijn , a recepcionista desejada, tornando o filme mais sólido e apimentando-o ao mesmo tempo, reforçando a ideia feita de que há sempre pelo menos uma mulher nua num filme holandês. O leque ficou completo com Leon Voorberg (o primeiro chefe) e Hans Kesting (o chefe dos chefes), ambos igualmente com carreira firmada. De notar que a maior parte destes actores vêm da escola de cinema de Maastricht no sul da Holanda e pelo facto de o actor principal ser belga (talvez para aumentar a sua alienação apesar de falar a mesma língua que os holandeses) arrisco-me também a afirmar que na verdade existe um cluster Holandês-Belga de cinema que irá crescer nos próximos anos. A língua e as afinidades históricas tratarão do resto.
Na abertura de Win / Win surgem os seus maiores trunfos: a banda sonora de Minco Eggersman e a cinematografia fresca e cuidada de um jovem cineasta que nos fazem sorrir instantaneamente e mais tarde sentir a textura de um tapete na casa de Ivan quando caminha descalço ou até o cheiro a cerveja e cigarros das ruas da insónia em Amesterdão. O trabalho de câmara e a edição estão focados e adaptam-se ao que a personagem experiência.
Este bom gosto cinematográfico e versatilidade são conseguidos porque o filme, tal como o protagonista, nunca se levam muito a sério. Ivan gosta do que faz e como uma criança grande segue as suas pulsões: brinca com a matemática do dia-a-dia desde fazer milhões na bolsa até a jogar à macaca no passeio. Mas por outro lado, repudia a recepcionista como um brinquedo velho depois de a conquistar, comete todos os erros com o aumento da responsabilidade dando o exemplo de como ter um esgotamento em poucos meses e também escolhe prejudicar a empresa que o promoveu para que o despeçam. Mas não a consegue afundar talvez por ter sorte de principiante.
Talvez Jaap van Heusden também tenha tido sorte de principiante ao fazer um filme tão equilibrado como primeira longa-metragem, mas isso só o tempo dirá. Vale a pena manter debaixo de olho este jovem realizador de Utrecht que esperemos que saiba lidar com o sucesso melhor que Ivan.
Win / Win é um filme artisticamente bem conseguido, faltando talvez um argumento mais apurado e teria pontuação máxima. Sendo assim é um saboroso Queijo Gouda, bem acompanhado a mostarda que é assim que se quer.
Trailer: http://www.imdb.com/video/wab/vi4228383769/
Cotação Video Club Amsterdam (5 é a pontuação máxima!)
1 – Zwart-Wit Dropjes
2- Stampot
3- Bitterbalen
4 – Queijo Gouda
5 – Espresso and Stroopwafel
*) Este texto não foi escrito pela Portuguesa na Holanda do costume, mas sim por um atento leitor do Blog também ele um Português na Holanda! Obrigada!