Pesadelo Hitchcockiano: Pássaros contra sacos do Lixo

Para aqueles que está estão a estranhar o título, é isso mesmo, este post trata sobre gestão de lixo, e como se tornou uma temática Hitchcockiana cá em casa.

É verdade, nunca me deparei tanto com a problemática do lixo que produzo, desde que cheguei aqui à Holanda quase há 5 meses. E isto, tudo porque ao contrário da minha localidade em Portugal em que há contentores nas ruas e nos podemos livrar do lixo que produzimos todos dias, aqui temos que carinhosamente viver com ele durante uma semana. E obviamente não estou a falar do lixo reciclável, esse podemos tratar dele em pequenas ilhas tipo “eco-ponto” que vão surgindo aqui e ali nas ruas. Estou mesmo a referir-me ao orgânico mal-cheiroso, que em Portugal vamos colocar todos os dias ao contentor. Despachamos o assunto e não somos forçados a pensar sobre ele, nem a cheirá-lo.

Aqui, neste novo sítio em que vivo, o dia de hoje, é um dia de felicidade. As terças-feiras são o dia da semana em que posso pôr os 2 sacos grandes de lixo que produzo na rua, e na manhã seguinte de quarta-feira, posso também dizer-lhes adeus quando um camião grande os vem recolher. As terças feiras trazem-me assim a sensação de início de ciclo. Acabou-se o saco fedorento da semana aqui em casa, venha outro.

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Foto: uma quarta-feira de Inverno

Depois do meu choque inicial ao perceber que só um dia da semana é dia do lixo aqui neste sítio, tive que começar a habituar-me à pilha de lixo a avolumar-se na cozinha. Rapidamente, olhei para as varandas dos vizinhos e percebi, que eles já tinham encontrado a solução para o problema: pôr o lixo na varanda. Afinal o ar da rua é de todos e é maior, o ar da cozinha é só meu e pequenino.

No Inverno, esta solução não trouxe problemas por demais.

No entanto, agora no pico da Primavera algo de estranho está a acontecer. Os passarões aqui das redondezas fazem raids aéreos e ataques terrestres à minha varanda. Ontem, dei por mim a enxotar violentamente 2 pássaros enormes da varanda, que se debatiam furiosamente contra um dos meus sacos de lixo. E às vezes os sacanas ganham…o que implica limpar toda a varanda, e reviver o lixo que produzi há quase uma semana atrás. Não é bonito, não é simpático. Aliás é um terror.

Os pássaros estão à espreita, eles agitam-se no ar sempre que percebem que mais algum ingénuo deixou um saco desprotegido na varanda. Pássaros, pássaros, pássaros, grandes e pretos, por todo o lado…prontos a atacar!

birds

 

Birds_1

E sim, sinto-me parte do elenco do Birds do Hitchcock. Mais uma vez não é bonito. A qualquer som estranho na varanda, lá vou eu a correr para fazer de espantalho. Devo temer pela vida? Sabemos que esse filme não acabou bem…

Mais uma vez olhei para a varanda dos vizinhos para procurar por respostas. Misteriosamente, apareceram muitos contentores de plástico agora nas varandas que protegem os sacos. Olha os Espertalhões! Com falta de tempo para ir comprar um contentor grande para pôr na varanda, vivo uma semana de cada vez, com um lembrete automático na cabeça: “Por favor não te esqueças que 3.ª feira é dia de lixo“. Porque pior do que viver uma semana com o nosso lixo, é viver 2 semanas com o nosso lixo.

Piada à parte, agora vem a questão mais importante: Que formas e que estratégias utilizar para produzir menos lixo?

Não só obviamente pelo nosso bem-estar egoístico, mas também pela sustentabilidade da nossa morada alargada, o nosso planeta.  É que quando somos confrontados com a realidade do volume semanal do que produzimos não podemos deixar de nos assustar, e pensar que mesmo individualmente temos um grande impacto.  E obviamente que muitas das vezes este lixo, não vai parar aos sítios certos, e não é tratado como deveria ser. Neste pesadelo Hitchcockiano, os pássaros até talvez tenham o papel mais sustentável desta história toda. Eles no fundo querem eliminar o desperdício do ecossistema, o desperdício que EU produzo.

Alimento para o pensamento: tenho que encontrar formas de reduzir os meus desperdícios, e rapidamente! Sugestões são muito bem-vindas!

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4 comentários

  1. É curioso o que escreves, porque ainda este fim-de-semana o Tiago me dizia: “já viste a quantidade de lixo que produzimos?!” Do que me apercebo, a maior quantidade tem que ver com embalagens, que ocupam muito espaço. Mas aqui não tenho o problema das 3as feiras :) temos uma sala do lixo, na cave, onde podemos deixar os sacos de lixo e os plásticos. Papel e vidro temos de deixar nos contentores apropriados na rua. E assim se vive em Madrid :)

  2. Luís Santos · · Responder

    É como a Sílvia diz, evitar embalagens comprar tudo avulso, evita bastante lixo. Não sei que espaço tem o teu frigorifico, mas no meu caso, que deixo estragar alguma comida no frigorifico, só a deito fora quando vou ao lixo, é que enquanto está dentro das caixas e no frigorifico, não deita odores nenhuns :). A propósito da foto que colocaste, lembrei-me disto que li esta semana. Repara bem ao segundo 22 do vídeo:

    Cinéfilo turista

    O turista cinematográfico Hervé Attia é um turista muito original. É também um realizador amador original: Hervé visita locais de filmes famosos e, mediante comparações plano a plano, monta os seus vídeos comparando o estado actual desses locais com os da época das filmagens. No geral, cada vídeo de Hervé tem 12 minutos de duração, suficientes para mostrar e comparar os locais de filmagens com a maior minúcia possível. Só um grande cinéfilo, com muita paciência e abnegação, conseguiria um trabalho desta natureza quase obsessiva.
    No seu canal do Youtube existem dezenas de exemplos (filmes de todas as épocas, dos clássicos aos mais comerciais).
    Veja-se este exemplo do clássico “Os Pássaros” do mestre Hitchcock:

    1. Bem, este trabalho é brutal! E concordo, é um pouco obsessivo ;) mas esta muito bem feito :)

  3. Ai estou tão contente!
    Não sou só eu!
    Já tinha medo que me apelidassem da maluquinha das terças-feiras!
    A serio, é assustadora a quantidade de lixo que produzimos; tenho vindo a tentar reduzir, nem sei muito bem como, uma vez que por aqui vem tudo em embalagens; a carne por exemplo vem nas caixinhas ao invés dos saquinhos que me entregavam no talho em Lisboa, mas é verdade que de semana para semana o volume é cada vez menor no meu contentor. Não dá jeito nenhum esta estória da recolha semanal mas alertou-me a consciencia para a pegada que estou a deixar no planeta.

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