No fim-de-semana passado decidimos ir ver o Life of Pi, a um cinema bem perto de casa, o Louis Hartlooper Complex e houve dois momentos dignos de nota.
O espaço (http://www.louishartloopercomplex.nl/) tem umas 3 salas de cinema e dois cafés muito bonitos. Para além do cartaz normal, fazem exibições especiais e tem um programa cultural. Sendo que o local em si está tratado com muito gosto, com tudo arranjadinho, sente-se uma aura especial, como se ir ao cinema continuasse a ser um evento importante.
E a prova disso, são os dois momentos dignos de nota que passo a assinalar:
1) As pessoas saem directamente do bar com a sua bebida num copo de verdade, note-se num copo de vidro! Pondo as coisas mais claras ainda, num copo não de plástico ou papel, e a bebida incluiu a possibilidade de álcool. Entram na sala de cinema e continuam a apreciá-la calmamente. Em Portugal, sabíamos como é que isto ia acabar, não?
2) Antes da tela, há um pequeno palco com um piano, e antes das luzes descerem, sobe uma rapariga ao palco, e em Holandês, começa a fazer uma introdução ao filme. Pelo menos foi isso que percebemos: “Life of pi….bla bla bla bla…booek…bla bla bla…Ang Lee…bla bla bla bla…filmed in India, Canada…bla bla bla….Crouching Tiger, Hiden Dragon, Broke Back Mountain…bla bla bla!” e quando termina palmas!
Bom, alguém tinha acabado de fazer uma introdução de cerca de 5 minutos ao filme, explicando que a história original era de um livro, qual tinha sido o processo de realização, quem eram os actores e um pouco da carreira do realizador.
E eu estava confusa, maravilhada e com sede, porque não conseguia parar de pensar numa coca-cola em copo de vidro, com duas pedras de gelo e uma rodela de limão!
Bom, concordemos que o conceito é genial, e que devia ou podia ser aplicado em muitos cinemas mais pequenos para lhes conferir charme adicional. Mas porquê naquele cinema em particular e não em todos? Porquê ali?
E isso leva-nos à epifania de hoje e à descoberta de uma nova profissão: o “Explicateur” que originalmente era alguém que explicava uma exibição silenciosa, isto é, um filme mudo.
E quem era Louis Hartlooper? Foi um dos explicateurs mais famosos de Utrecht! O Meneer Hartlopper era uma lenda e uma celebridade por estas bandas, e o que ele fazia era explicar ao público os filmes mudos com palavras e gestos. De acordo com o crítico da altura: “ele vivia realmente o que acontecia na tela” e era adorado pelo público.
Bom, e com tudo isto dito, parece-me a melhor forma de continuar a fazer viver uma lenda. Espero ansiosamente pela próxima sessão no Louis!
O piano faz-me lembrar o velhinho Cine Atlântida de Carcavelos, com direito a palco, piano e cortina :) Mas de resto, a bebida e o explicateur deixa-me sem palavras :-)
É exactamente isso que também me lembrei! :) Sabes que eu adoro esse cinema, e acho que um charme mais cultural deste género vinha mesmo a calhar ali :)
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